Ozzy Osbourne: osmose, nostalgia e luto
Por: Marcela Riccomi Nunes*

Eu cresci nos anos 80 ao som de alguns poucos discos e fitas de rock n’ roll dos anos 50 e 60 que o meu pai escutava. No início dos anos 90, eu era uma beatlemaníaca e a típica adolescente roqueira da era pré-internet: com pouquíssimas fontes de acesso, descobri as principais bandas responsáveis pelo estabelecimento do rock e do metal a partir dos anos 70 até aquele dado momento.
Uma das primeiras descobertas foi Paranoid, gravado em uma fita K7 e emprestada por um amigo, que me disse “eles criaram o metal”. A voz peculiar, os riffs potentes, as levadas do baixo e da bateria em meio à atmosfera sombria não me deixaram dúvidas de que aquilo era genial. Fui atrás dos outros trabalhos e, é claro, conheci as histórias malucas que contribuíram para a construção dessa pessoa mítica, incomparável e que, pasmem, também era muito fã dos Beatles.
No decorrer desse caminho, graças a ele, tive um dos momentos mais marcantes vividos por mim até então. Toquei Mama I’m Coming Home em uma festa na escola com uma banda formada por grandes amigos de classe. Nada mais desafiador do que isso, éramos adolescentes e estávamos na 7ª ou 8ª série. No decorrer dos anos, tive o prazer e a honra de presenciar shows do Black Sabbath (Amém!) e da carreira solo do Ozzy e, sim, o cara tem uma pegada única no palco e na relação com o público.
Essas e muitas outras memórias vieram à tona com força durante o Back to the Beginning e ganharam ainda mais intensidade quando soube de sua morte, alguns dias depois. Foi como voltar no tempo e rememorar lugares, situações, pessoas, épocas e momentos.
Conversando com amigos e vendo toda a repercussão mundial do seu falecimento, percebi que esse sentimento de nostalgia acometeu a todos e mobilizou relatos pessoais de diversos tipos. Um misto de saudade e afetos que, de certa maneira, evocaram uma agradável sensação, apesar da certeza de que nada mais daquilo será materialmente vivido novamente.
Ozzy não foi importante para o heavy metal por ter sido criado e movido pela mecânica da indústria musical. Do contrário, ele foi importante porque desafiou e decidiu que seria ele mesmo. Foi por essa essência tão autêntica de ser o que nós nos identificamos, absorvemos e internalizamos toda a sua obra. Por essas e outras, eu só consigo pensar que Ozzy não foi apenas um marco na música, mas foi, também, um marco na vida de cada um que o escutou, conquistando admiração, identificação e empatia. É justamente por isso que, agora, experimentamos o luto pela perda de alguém tão significativo e que tanto nos impactou.
São muitas músicas, muitas memórias e muitas histórias. Depois da osmose de absorver tudo o que Ozzy criou, vem a nostalgia e o luto. Uma boa maneira de elaborar essa nova realidade da perda é celebrar, homenagear e continuar a rememorar tudo o que vivemos por sua influência em busca da sensação de que a vida, sim, continua, mas de uma maneira diferente porque ele nos fez construir novos significados.
John Michael Osbourne: uma lenda, a personificação do trítono e o definidor de uma era. Valeu Madman pela música, pelo teatro e pela influência. Go fucking crazy!
*Marcela é bióloga e professora e atua como colaboradora do portal Plantão Rock, da Morcegão FM. É muito fã de rock, fotografia, ciências e memes.
1 comentário