Se você estava vivo em 1999 com certeza foi impactado por Matrix. A marca que o filme deixou na cultura POP está presente até hoje em referências de filmes, roupas, livros e principalmente nas redes sociais. Não é de menos, a franquia com 3 filmes arrecadou mais de US$ 1,6 bilhão e consolidou Keanu Reeves no seu principal papel como Neo.
No último dia 9 de setembro a Warner Bros nos brindou com o tão esperado trailer do novo capítulo Matrix Resurrections, quarto longa da saga de ficção científica que traz Keanu Reeves novamente no papel de Neo.
Nossas expectativas estavam elevadas e o trailer se mostrou um misto de novidades com muito “fan service” (se você não assistiu ao trailer dá uma rolada esperta até o final do texto e confira), mas uma excelente surpresa veio logo no início com os acordes inconfundíveis do baixo de “White Rabbit”.
Se você não tem ideia do que estamos falando, aproveite o vídeo da música no final da página ou clique aqui. “White Rabbit” não é uma canção qualquer. Essa composição psicodélica da banda Jefferson Airplane é uma queridinha de Hollywood há décadas e pode ser encontrada em filmes como Platoon (1986), Sucker Punch (2011), Kong: Ilha da Caveira (2017), passando por séries de TV como Big Little Lies e The Handmaid’s Tale.
Mas por que Hollywood gosta tanto de “White Rabbit”?
Em 1960, quando a música foi lançada, você pode “imaginar” que a letra da música e sua composição visual no clipe não estavam fazendo outra coisa a não ser convidar as pessoas a usarem mais drogas psicodélicas. Claro que quando deixamos de lado essa abordagem e pensamos na sua referência ao coelho branco de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll a mensagem se torna mais interessante a ponto de conquistar Hollywood. De acordo com a própria compositora da música, Grace Slick, “White Rabbit” na verdade é uma canção sobre a “curiosidade” das pessoas e que o coelho branco, assim como no livro, representa o símbolo do impulso humano de descobrir e explorar coisas novas e contestar a sabedoria tradicional.
Essa mensagem universal é retomada no trailer de Matrix 4 e cai como uma luva ao encontrar Neo como uma pessoa presa em uma realidade alternativa que precisa de um impulso para descobrir novos caminhos.
Durante o trailer, a música navega por cenas que se completam com a letra da composição. Por exemplo: quando a música fala sobre pílulas que te tornam maior ou menor, e despreza “aquelas que a sua mãe te dá” por “não fazerem nada demais”, vemos Neo (Keanu Reeves) jogando fora o seu estoque de pílulas azuis. Conseguimos deduzir que essas pílulas o estão prendendo sem que ele perceba a existência da Matrix.
Em outra parte do trailer, conseguimos identificar que uma personagem (o novo oráculo) mostra a Neo uma cópia do clássico infantil de Lewis Carroll e, logo depois, o vemos às voltas com espelhos que se comportam como portais. A cena é uma referência clássica a Alice na continuação Através do Espelho, onde a personagem encontra uma nova realidade “através do espelho”.
O trailer segue com mais referências como o retorno do coelho branco em uma tatuagem servindo de guia e estímulo para novamente tirar o personagem Neo da sua vida presa em uma rotina. Ouvir a voz da cantora Grace Slick entoando “a lógica e a proporção desabaram mortas no chão” enquanto os personagens usam a Matrix para desafiar as leis da física (vem bullet-time ai meu amigo!) é parte fundamental do impacto do novo trailer de Resurrections.
E se você se lembra que para sair da Matrix no primeiro filme Neo toma a pílula vermelha nada faz mais sentido do que o convite feito pela música com a frase “Alimente sua cabeça”.
Muitos críticos da série de filmes irão reclamar do uso repetitivo do coelho branco na franquia como ponto de partida para a jornada de Neo, mas como falamos no início o trailer apresenta muitos elementos nostálgicos para os fãs e também muitos novos. É importante lembrar que a mensagem de Matrix sempre foi de contestação da ordem social vigente e da mudança. Nos momentos atuais de 2021 nada melhor do que assistir a um grupo de pessoas lutando contra uma realidade artificial pela sobrevivência do mundo “de verdade”.