Do What´s Up até o sucesso do Charlie Brown Jr a banda enfrentou um longo caminho. A banda foi formada em 1992, mas a consagração perante o público só veio em 1997 com o lançamento de “Transpiração Contínua Prolongada”. Sucesso na época produzido por Patolla.
Com o sucesso a banda começou a encontrar problemas. Já no segundo disco a popularidade e o dinheiro levaram o vocalista para um constante estado de raiva e brigas com os integrantes da banda. Segundo o produtor Tadeu Patolla, o terceiro disco marca uma mudança de caminho sem volta que levou a banda ao resultado final, que foi a morte de dois integrantes.
Em uma ótima entrevista para o canal do Youtube “À Deriva Podcast”, o produtor deu detalhes sobre a história da banda com o olhar de quem esteve perto de tudo. Segundo ele, Chorão passou a agir de forma diferente já a partir do segundo álbum da banda, “Preço Curto… Prazo Longo” (1999).
“Eu ficava maravilhado com o sucesso e com a realização dele, porque de repente, do nada, eles começaram a ganhar dinheiro – o Chorão mais ainda. Só que teve uma coisa ruim nisso: a partir do momento que eles começaram a ganhar dinheiro, e que o Chorão começou a ganhar dinheiro, ele deu uma transformada legal”, afirmou o produtor.
O que, exatamente, mudou no comportamento do Chorão? Patolla deu detalhes: “Ele parou de ser aquele cara mais calmo – que, de repente, te ouvia e que agradecia ao fazer alguma coisa – para ser um cara mais intransigente, com dinheiro na mão, sabe?”. Por outro lado, ele deixa claro que o cantor “ainda era o Chorão que todos conheciam” e vivia uma luta interna entre manter o controle do sucesso e dividir tudo com a banda e o meio musical.
O segundo disco produzido “Preço Curto… Prazo Longo”, veio para coroar o sucesso. Com muitas músicas que não couberam no primeiro álbum como “Zóio de Lula” e “Te Levar”, o novo disco catapultou a banda para o sucesso em todo país e para a vida de rockstar. frontman do Charlie Brown Jr “já estava meio doidão”, de acordo com Segundo Tadeu Patolla foi nessa época que Chorão começou a aparecer doidão ou até mesmo não aparecer para as gravações. “No segundo disco, o Chorão já estava meio doidão, já tinha ganhado dinheiro, podia fazer o que queria. Saía com aqueles bolos de dinheiro. Vida de rockstar”, disse.
“Corrompido pelo sistema” a frase marcante revela o que viria a seguir, na visão do produtor. “O Chorão foi corrompido pelo sistema, pela indústria. Começou a ver aquilo e ficar: ‘isso aqui é meu, aquilo é meu, quero tudo, não sei o que’, sabe? Ficava aquela tensão”, declarou.
Patolla era o produtor, mas o Charlie Brown Jr não teria saído do papel se ele não tivesse levado a fita demo para Rick Bonadio que na época tinha assumido a Virgin Records. Durante o término do segundo álbum e o início do terceiro ocorreu uma briga entre Chorão e o produtor Rick Bonadio que levou a banda para uma nova gravadora. Segundo Patolla “Eles tiveram uma briga muito feia, porque o Rick era muito centralizador e quando a coisa não está do jeito que ele gosta, já faz cara feia. Chorão começou a desafiá-lo e eles brigaram. Era uma discussão musical e também pessoal”, afirmou.
Assim, ocorreu uma mudança no time de produção do Charlie Brown Jr. Enquanto os dois primeiros álbuns foram gravados por Rick Bonadio e Tadeu Patolla, o terceiro disco, “Nadando com os Tubarões” (2000), teve seu processo conduzido somente por Patolla. Brigas entre os músicos também começaram a rolar nesse período.
“Eles já tinham muito dinheiro, então a pré-produção do ‘Nadando com os Tubarões’ foi feita no Guarujá, em uma casa que eles alugaram. Montaram um estúdio, eu ia todo dia. Depois dessa pré-produção, teve muita briga entre eles, por causa da intransigência do Chorão e da falta de entendimento de alguns integrantes de que o Chorão era o cara, o frontman, ele dava a letra e resolvia. Era sobretudo: sobre música, coisas pessoais… foi uma época muito difícil”, afirmou.
“O Chorão estava completamente louco, completamente fora da casinha. […] Fiz esse disco no meio de uma situação muito louca. Era o dia inteiro essa galera dentro do estúdio. Cheio de gente. Só gente do rap. […] Os caras não faziam tanta baderna, mas o Chorão estava muito louco. Tinha dia que ele não ia ao estúdio. Já estava com o jogo ganho. E a EMI pagando tudo”, declarou.
As dificuldades seguiam e já não podiam ser descartadas com facilidade. “Tinha dia que simplesmente não tinha gravação. Chorão não ia. Marcava com um cara de fazer a voz, ou alguma coisa, mas não ia. Ficava aquele estúdio vazio o dia inteiro, sendo cobrado por hora – sei lá, R$ 200 por hora -, sem produtividade. Foi muito difícil”.
Para Tadeu Patolla a criatividade e genialidade de Chorão eram indiscutíveis. A música “Rubão (O Dono do Mundo)”, nasceu da visão que o próprio vocalista tinha da indústria musical. E mesmo corrompido pelo a cada dia pelo sistema, Chorão conseguia vislumbrar que todos só queriam um pedaço do seu talento.
“Chorão escolheu ‘Rubão’ para ser a primeira do disco. Rubão era, na cabeça dele, o presidente da gravadora. Era o Aloísio Reis. No clipe, eles pegam um cara de limusine, de cabelo branco, igual ao Aloísio, para ilustrar o que ele chamava de ‘nadar com os tubarões’. Ele já estava sacando que a galera só queria sugar ele. Essa foi uma das revoltas dele”, comentou.
Acompanhe abaixo alguns trechos da entrevista e curta mais um pouco da memória do Charlie Brown Jr.